(Leo Pinheiro, do Rio de Janeiro. Fonte: Veja Online)
Moradores do bairro do Rio onde hotel de luxo foi assaltado cobram policiamento na rua e criticam extinção de unidade da PM que cuidava das ruas da região.
Santa Teresa, o charmoso bairro turístico, foi um dos beneficiados com a criação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), nos morros dos Prazeres e Escondidinho. A fama do local, para além do bondinho, dos ateliês, restaurantes e dos pontos turísticos, nas duas últimas décadas, foi também a da insegurança. Assaltos a residência, roubos de carro e presença do tráfico de drogas nas favelas que dividem a encosta com casas de luxo fazem parte da história recente da região.
A chegada da polícia ‘pacificadora’ foi um alento. Mas, na madrugada de segunda-feira, a invasão ao Hotel Santa Teresa, com 15 hóspedes atacados por quatro bandidos armados, espalhou pelo resto da cidade o que, até então, parecia uma insatisfação restrita às ruelas do bairro: apesar do avanço da segurança sobre o território que antes era de traficantes, há muito a fazer para que o local seja considerado seguro.Diretor da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa, o historiador Álvaro Braga aponta para uma mudança que, segundo ele, prejudicou a segurança no bairro: a extinção do 1º Batalhão de Polícia Militar, unidade que cuidada do policiamento ostensivo em Santa Teresa. “No dia em que fomos avisados que o batalhão iria acabar todos os membros foram pegos de surpresa. Não só eu, mas também os delegados da 6ª e da 7ª DPs, o coronel Ranulfo Brandão, que comandava a unidade. Nós não fomos consultados”, afirma Braga. Atualmente, o bairro faz parte da área coberta pelo 5º BPM (Harmonia).
Para o historiador, a preocupação com o turismo é legítima. Mas o episódio da madrugada de segunda-feira acabou expondo a situação que preocupa moradores e quem está, todos os dias, exposto à insegurança. “É lógico que o assalto a um hotel de luxo atrairia a atenção da mídia e, por isso, o secretário de segurança se pronunciou”, acredita.
O posicionamento da Secretaria de Segurança e do governo do estado veio na forma de um anúncio que, se confirmado, pode amenizar o problema. A secretaria informou, na segunda-feira, que Santa Teresa vai receber uma Companhia Destacada de Policiamento, que será instalada onde funcionava o Hospital do Quarto Centenário.
Confirmada a promessa, moradores e comerciantes esperam ver o que, em geral, tem impacto direto na sensação de segurança de uma região: policiais e carros de polícia circulando na rua. Para Edilene Francisca, gerente de uma loja de roupas situada no Largo dos Guimarães, um dos principais pontos comerciais do bairro, o assalto ao hotel já prejudica as vendas. “Hoje o movimento está mais fraco. A notícia se espalha rápido. Os turistas e os próprios cariocas se afastam”, diz. Edilene diz que há cerca de um mês, desde que o 1º batalhão foi extinto, reparou que há menos policiamento nas ruas do bairro. “Vi passar carros aqui hoje, mas já tem um tempo que acabou o policiamento a pé. Antes dois policiais costumavam vir aqui na loja, perguntar se estava tudo bem. Os compradores vendo aquilo se sentiam mais seguros, e eu também”, diz a gerente.
Na mesma calçada da loja funciona um tradicional restaurante de comida Alemã, no qual os funcionários também repararam a diminuição do policiamento. “Policial andando pela rua é coisa rara de se ver por aqui. Eles passam de carrinho de golfe e os policiais da UPP passam de carro na hora de troca de guarda, mas nunca param”, diz o garçom Francinaldo Viterbo. Apesar da reclamação Francinaldo afirma que hoje a segurança é melhor do que há oito anos, quando começou a trabalhar no local. “Assalto ao comércio não existe mais aqui. O problema que a gente ouve falar muito é de assalto às casas”, completa o garçom.
Morador do bairro há trinta anos, o balconista Omar Dario é da turma que acha que a segurança de Santa Teresa é estável. “Ruim como sempre foi”, ironiza ele. Omar lembra uma característica peculiar da região: a contratação de vigilância privada com instalação de cancelas irregulares nas ruas. “Na maioria das vezes quem faz isso são moradores que já tiveram as suas casas invadidas. Mas o problema é que a cada dia que passa são instaladas novas guaritas e contratados homens para fazer o serviço policial”, conta o balconista, que se preocupa com a proliferação da segurança ‘por conta própria’. “É também uma questão de infra-estrutura. Querem transformar o bairro em atração turística, mas de turístico aqui só tem a arquitetura. Não tem iluminação, serviços, comércio para os moradores. E isso em um bairro em que tudo é caro, o IPTU, o aluguel”, protesta.