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Bonde

O Bonde é Tombado! O que isso significa?

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bondinho tradicional na estação Silvestre, com o trem do Corcovado passando ao fundo

O tombamento do Sistema de Bondes de Santa Teresa foi uma conquista dos moradores e amigos do bairro, fruto da luta incansável da AMAST, que tem como uma de suas bandeiras permanentes a defesa do bonde como meio de transporte mais adequado à nossa topografia, realidade histórica, cultural e social.

O decreto do tombamento foi o que garantiu que o Sistema de Bondes não fosse extinto pelo Governo do Estado. Com a proteção legal, o Estado passou a ter obrigação de preservar esse patrimônio histórico e cultural, mantendo-o como meio adequado de deslocamento nas curvas e ladeiras do bairro. Embora a proteção não se dê automaticamente, passamos a ter fundamento legal e legitimidade para seguir lutando e reivindicando nossos direitos.

 

QUAL O ALCANCE DO TOMBAMENTO? O QUE ELE ABRANGE?

Os Bondes de Santa Teresa foram tombados em âmbito estadual através do processo nº E-03/31 269/83, e Resolução nº 047, de 25 de março de 1988, publicada no DOE de 08/04/1988. A proteção abrange todo o sistema, “com seus mecanismos, trilhos e acessórios, nas duas linhas existentes, Dois Irmãos e Paula Mattos, considerada esta última como chegando ao Corpo de Bombeiros pela Rua Paula Mattos, bem como a garagem e a oficina situados no final do pequeno ramal que sai do largo do Guimarães”, registra o ato de tombamento.

E acrescenta: “(…) Isto sem prejuízo do atendimento à (sic) exigências técnicas que incluam  recuperação e conservação de motorescomponentes de tração e carroceria, manutenção e reparo de vias, redes elétricas e uma esperada reabertura dos trechos que levavam ao Silvestre e Muratori, atendidos pelos carros que possuiam (sic) os títulos “Silvestre”, “Lagoinha” e “Muratori”.

Fica entendido, também que este tombamento compreende que os únicos e exclusivos carros em circulação no sistema sejam idênticos aos modelos de carros-motores abertos existentes”.

Reconhecendo que a importância cultural e histórica do Sistema de Bondes de Santa Terese ultrapassa limites meramente locais, interessando, em verdade, à nação brasileira, consta junto ao IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL o processo nº 1506-T03, de 30/01/2003,  com o mesmo objetivo da proteção estadual.

 

O QUE O TOMBAMENTO PROTEGE? O QUE NÃO É PERMITIDO?

BONDE DE SANTA TERESA: TRADICIONAL, TOMBADO E SEGURO HÁ 115 ANOS

De acordo com o processo e legislação que fundamentaram o tombamento, o Sistema de Bondes de Santa Teresa deve preservar suas características originais, inclusive quanto aos mecanismos, acessórios, motores, componentes de tração e carroceria, que devem ser recuperados e conservados. Não é permitida a circulação de outro tipo de modelo no sistema.

Como podemos perceber, está muito claro que a proteção vai além da aparência, e contempla a essência desse sistema de bondes que funciona de forma adequada há mais de 115 anos. Esta proteção ampla não foi uma decisão imposta unilateralmente, mas sim resultou de estudos sérios, análise e reflexão, antes e durante o processo de tombamento, através do qual chegou-se a conclusão de que proteger somente a carcaça, a aparência externa, não seria o bastante para preservar o bonde enquanto principal meio de transporte de Santa Teresa.

 

O BONDE TRADICIONAL É SEGURO? HÁ HISTÓRICO DE ACIDENTES?

O modelo de bonde tradicional protegido pelo tombamento existe, com modificações pontuais, há cerca de 115 anos. Durante todo esse tempo, não há histórico de acidentes relacionados às características e ao modelo de bonde utilizado.

Acidentes ocorreram, é fato; alguns de grandes proporções, causados por superlotação e má-conservação. Analisando o histórico de acidentes e incidentes, constata-se uma relação direta com o aumento do fluxo de veículos e ônibus em circulação no bairro, os quais, ao contrário dos bondes, tendem a trafegar em alta velocidade e a ser conduzidos com irresponsabilidade.

Comparando o registro de acidentes causados pelos “bondes modernizados”, também conhecidos como VLT’s ou Franksteins, sem deixar de lado a gravidade e as causas das ocorrências, é possível afirmar com absoluta convicção que os bondes tradicionais são seguros. Essa é uma constatação técnica, mas também uma percepção dos usuários.

 

MODERNIZAR, REVITALIZAR, PRESERVAR, RESTAURAR… O QUE PRECISAMOS, AFINAL?

A palavra modernização é sedutora e tem sido utilizada sistematicamente na tentativa de legitimar e justificar as intervenções ilegais e criminosas realizadas em nosso Sistema de Bondes. TODAS as tentativas de modificação e modernização promovidas ao longo da história de nossos bondes se mostraram fracassadas.

Em 1983 houve a tentativa, por parte da CTC – Companhia de Transportes Coletivos, que controlava o sistema desde 1963, de fechar alguns dos carros, alegando aumento da segurança dos passageiros. A invenção não só foi rejeitada pelos usuários, como provocou os estudos que levaram ao tombamento.

Em 2007, os bondes levados para restauração foram desmantelados, e em seu lugar nos entregaram um arremedo de VLT (veículo leve sobre trilhos), uma aberração tecnológica que tentou preservar as característica externas mas ignorou o tombamento, ao introduzir alterações tecnológicas no sistema de freios, truque, tração, rodas, enfim, uma verdadeira gambiarra ao custo de R$ 1 milhão, com falhas de projeto comprovadamente apontadas pelo CREA e jamais solucionadas. Apelidados de Franksteins esse veículos causaram incontáveis incidentes e graves acidentes, com vítimas fatais. Em todos os casos, alertamos para os riscos, mas fomos solenemente ignorados pela empáfia e arrogância da Secretaria de Transportes, CENTRAL (Cia. que administra o sistema) e T’`TRANS (empresa que desenvolveu os protótipos de VLT’s).

É com orgulho e tranquilidade que rejeitamos qualquer proposta de modernização. Em sua tradicionalidade, o bonde é moderno quando utiliza energia limpa e funciona adequadamente sem a necessidade de tecnologias de última geração. O bonde é aberto para permitir a circulação e a interatividade entre as pessoas, a movimentação do cobrador, a comunicação com o bairro.

Revitalizar é injetar novamente um sopro de vida. Qualquer proposta de modernização que seja contrária ao tombamento jamais será uma revitalização, e sim a morte da alma do bairro, representada pelo Sistema de Bondes que deve ser restaurado e preservado.

Não podemos nos deixar levar pelo lugar-comum, nem tudo o que é moderno é bom ou funciona. A sabedoria popular já se deu conta que a indústria de um modo geral criou a falácia do “descartável”, do perecível, modificando a durabilidade dos produtos para escravizar as pessoas, tornando-as seus compradores permanentes.