Dá tristeza demais ver o que está acontecendo nas Paineiras.
Tapumes foram erguidos, grandes árvores foram derrubadas em todo o entorno do antigo hotel e o mesmo foi reduzido ao seu esqueleto. Passado, contudo, esta primeira fase de “limpeza” de terreno e preparação do canteiro, a obra parece estar sendo tocada em câmara lenta.
O que nos foi informado por um técnico do chamado Consórcio das Paineiras, ganhador da licitação,e confirmado por representantes do ICMBIO e do Parque Nacional da Tijuca, é que ainda esta faltando um parecer definitivo do IPHAN para dar prosseguimento à obra.
Duas questões causam espécie:
1. Como é que se dá início a uma obra, derrubando árvores dentro de um Parque Nacional, sem ter mãos todas as autorizações e aprovações necessárias para seguir em frente?
2. Como se explica a ausência de qualquer tipo de placa em frente ao canteiro, que identifique a empresa e os engenheiros responsáveis pela obra.
É possível , até, que haja explicações para isso. (Sempre há explicação para tudo). Mas o que é mais difícil entender é como foi que o ICMBIO (um instituto que leva o nome de Chico Mendes) e os responsáveis pelo Parque Nacional da Tijuca aprovaram e estão promovendo um projeto de construção de um edifício garagem dentro de uma das mais belas reservas de mata urbana do mundo?
O que se alega é que aceitaram a idéia porque irão ficar com parte da renda que será auferida com o aluguel de vagas de estacionamento e com o arrendamento de espaços comerciais no futuro centro comercial que foi planejado para substituir o velho hotel.
O que se pergunta é: Não estão arrecadando o suficiente com a venda de bilhetes de acesso ao Corcovado. Vejamos o que me foi informado hoje por um funcionário da área de finanças da Beltour:
– Nos dias úteis e na baixa estação, chegar ao Corcovado custa R$ 19,36,
sendo que R$ 8,00 ficam com os gestores do Parque e R$ 11,36 com a empresa que opera as vans.
– Nos fins de semana (e alta estação) a relação se inverte. O bilhete custa R$ 27,36, sendo que a empresa das vans ficaria com R$ 11, 36 e o Parque com R$ 16,00. Considerando-se que o ICMBIO, já em 2011 falava em um recorde de 2 milhões de visitantes, fica fácil ter uma noção do total arrecadado com a venda de bilhetes das vans e do trem. Será preciso mais que isso para fazer a manutenção – nada espetacular – do Parque, como é feita hoje?
É muito provável que o Parque Nacional da Tijuca esteja financiando não apenas sua própria manutenção, mas também, solidariamente, a manutenção de outros parques nacionais. Nada contra a idéia em si.
O que não deve ser aceito em hipótese alguma é que para isso se construa um edifício garagem no meio de uma reserva natural com a do Parque da Tijuca.
É óbvio que a capacidade do edifício que se pretende construir será superada em curto tempo pela demanda que será incrementada pela própria existência do novo estacionamento. (Trata-se de uma lógica que já se constitui em dogma do planejamento urbano.)
O que seria correto e adequado, muito pelo contrário, seria proibir todo e qualquer tipo de estacionamento no interior do Parque. O acesso ao Cristo deve ser feito por modais circulares (ambientalmente corretos) que trazem e levam turistas sem nunca interromper seu percurso e que, de preferência, prolonguem seu trajeto até pontos como o Largo do Machado, Gávea e Centro da Cidade, onde poderão ser acessados por visitantes que vem dos mais diferentes lugares, sem gerar qualquer tipo de congestionamento e tumulto nas áreas adjacentes ao Parque.
Tudo indica que temos diante de nós, mais uma dessas aberrações geradas pelo cruzamento da ganância com a irresponsabilidade e a mais absoluta falta de respeito aos princípios básicos da lógica, ao patrimônio natural sobretudo, à cidadania.
E agora? Vamos ficar quietos? Deixar acontecer?
(texto do Jacques Schwarzstein)
PS
Também reivindicamos o acesso gratuito a alpinistas, ciclistas e esportistas que sobem à pé, que não podem nem entrar mais, o que é simplesmente inconstitucional.
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