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Bonde

BONDES: VEM AÍ MAIS UMA AVENTURA TECNOLÓGICA, E A COBAIA É VOCÊ

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Aventura Tecnológica: após um rastro de mortes e acidentes, “VLT’s” serão aposentados. Um desperdício de R$ 14 milhões em nome da “modernização”. Agora querem repetir a experiência, gastando 10 vezes mais.

Estarrecedoras! Não há palavra melhor para definir as informações preliminares divulgadas pelo Governo do Estado a respeito do Projeto de Recuperação do Sistema de Bondes de Santa Teresa.

Depois de meses de enrolação, sonegação de informações e inúmeros subterfúgios para burlar as ordens da justiça, o Governo Cabral,  por meio do Secretário Régis Fichtner, apresenta à mídia um projeto repleto de idéias mirabolantes e estapafúrdias, que além de atropelarem a legislação que rege o tombamento, ameaçam inviabilizar a utilização do bonde como meio de transporte do bairro de Santa Teresa.

Os equívocos começaram com a escolha da Carris de Lisboa, denunciada pela AMAST desde o início como uma opção equivocada. Esta foi a indicação de que o pior estava por vir, e nesse sentido os cidadãos Portugueses nos alertaram para as ameaças contra o sistema de bondes de Lisboa promovidas pela referida empresa.

“- Se eu for discutir cada item com os moradores de Santa Teresa vamos ficar discutindo por 10 anos (…) 

O Governo Cabral, sem ao menos buscar o que de melhor temos na indústria nacional, fechou todos os canais de diálogo, ignorando o Fórum Permanente do Bondinho de Santa Teresa, constituído pela sociedade civil para dialogar com o Estado com apoio de instituições como CREA, SENGE, Clube de Engenharia, ONG’s, associações, etc.”- Se eu for discutir cada item com os moradores de Santa Teresa vamos ficar discutindo por 10 anos e não vamos chegar a lugar nenhum. Nos reunimos algumas vezes e levamos isso em conta para o projeto, mas não posso discutir cada item do edital”, afirmou Fichtner, que contratou a Carris de Lisboa sem licitação e até o momento não deu satisfação sobre o custo desse “acordo de cooperação técnica”.

 

OS PREJUÍZOS AO MORADOR

O projeto apresentado agride de forma brutal e profunda o Sistema de Bondes de Santa Teresa, a começar pelas medidas que denunciam claramente o objetivo de priorizar a destinação turística, em prejuízo dos moradores: a redução do número de assentos para 24, aliada à extensão das linhas até o Silvestre, para integração com o Trem do Corcovado.

O PROGRAMA ESTADUAL DE TRANSPORTES – PET, que o Estado se comprometeu a cumprir desde 2003, previa um total de 14 bondes tradicionais como número ideal para atender à demanda dos Ramais Paula Mattos e Dois Irmãos. Ao se ampliar a extensão das linhas até o Trem do Corcovado, a procura dos bondes por turistas vai aumentar de forma considerável, gerando uma espera incompatível com a rotina dos moradores que precisam pegar o bonde para trabalhar ou estudar. A redução do número de assentos reduzirá em mais de 30% a quantidade de passageiros atendidos, tornando a situação ainda mais insustentável.

 

TOMBAMENTO ATROPELADO PELO ESTADO. MÁ-FÉ OU INCOMPETÊNCIA?

Ao propor medidas como a redução do número de assentos, a retirada de grande parte dos balaústres e estribos, a inserção de estribo retrátil e o fechamento das laterais com policarbonato translúcido o Governo do Estado do Rio de Janeiro e os Técnicos da Carris dão verdadeiro atestado de incompetência, demonstrando desconhecimento (ou seria desprezo?) pelos aspectos jurídico-administrativos, ambientais e históricos que vinculam a proteção do Sistema de Bondes de Santa Teresa.

Em âmbito estadual, o sistema de bondes foi tombado através do processo nº E-03/31 269/83, e Resolução nº 047, de 25 de março de 1988, publicada no DOE de 08/04/1988, que assim dispõe:

O SECRETÁRIO DE ESTADO DE CULTURA, no uso de suas atribuições legais e tendo em vista o que consta do processo  E-03/31 269/83, RESOLVE:

Determinar, nos termos do art. 5º, inciso V, da letra “a”, e seu parágrafo 2º  do Decreto .808, de 13 de julho de 1982, e na conformidade do Conselho Estadual de Tombamento, autorizado pelo Excelentíssimo Senhor Governador do Estado emato de 02 de março de 1988: o tombamento definitivo do bem cultural denominado BONDES DE SANTA TERESA, incluindo todo esse sistema de transportes, com seus mecanismos, trilhos e acessórios, nas duas linhas existentes, Dois Irmãos e Paula Mattos, considerada esta última como chegando ao Corpo de Bombeiros pela Rua Paula Mattos, bem como a garagem e a oficina situados no final do pequeno ramal que sai do largo do Guimarães, na conformidade do parecer constante de fls. 77 do referido processo.

Como se vê, o tombamento compreende o sistema como um todo, incluindo mecanismos e acessórios, nos exatos termos do parecer referido, que dispõe com clareza sobre a amplitude da proteção, senão vejamos:

(…) Isto sem prejuízo do atendimento à (sic) exigências técnicas que incluam  recuperação e conservação de motores, componentes de tração e carroceria, manutenção e reparo de vias, redes elétricas e uma esperada reabertura dos trechos que levavam ao Silvestre e Muratori, atendidos pelos carros que possuiam (sic) os títulos “Silvestre”, “Lagoinha” e “Muratori”.

Fica entendido, também que este tombamento compreende que os únicos e exclusivos carros em circulação no sistema sejam idênticos aos modelos de carros-motores abertos existentes. (grifou-se)

Reconhecendo que a importância cultural e histórica do Sistema de Bondes de Santa Terese ultrapassa limites meramente locais, interessando, em verdade, à nação brasileira, consta junto ao IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL o processo nº 1506-T03, de 30/01/2003,  com o mesmo objetivo da proteção obtida em âmbito estadual.

Por todas as razões acima, e com amparo na lei, a AMAST seguirá lutando em todas as instâncias legítimas, políticas, administrativas e judiciais, nos processos já existentes e em novas ações se for o caso, a fim de assegurar que o patrimônio histórico não sofra tamanha descaracterização para atender interesses espúrios dos irresponsáveis de plantão.

 

OS ABSURDOS SE REPETEM: ACEITAREMOS NOVAMENTE A CONDIÇÃO DE COBAIAS HUMANAS?

COBAIAS DO GOVERNO: ATÉ QUANDO ACEITAREMOS IMPASSÍVEIS O DESPREZO PELA VIDA HUMANA?

Ao recebermos o primeiro protótipo de VLT em nosso bairro, uma aberração imediatamente batizada de Frankstein, que sequer saiu do lugar, fomos, juntamente com os motorneiros, cobradores, turistas e vítimas dos acidentes e incidentes, cobaias humanas, antes, durante e depois do chamado “período de operação assistida”.

Até o último acidente os VLT’s rodavam no bairro impunemente, mesmo sem ter certificação de aceitação definitiva e sem ter resolvido as graves falhas de projeto apontadas pelo CREA e comprovadas exaustivamente por todos nós. Como ratos de laboratório, servimos de cobaias humanas para a empresa T’TRANS, que fabricou ao custo de mais de R$ 1 milhão os mesmos Franksteins que agora serão aposentados porque a CENTRAL e os Técnicos da Carris descobriram o que denunciamos desde o início dessa desastrosa aventura tecnológica.

Com a omissão e lentidão da Justiça e Ministério Público, os absurdos, as ilegalidades, as agressões ambientais e históricas foram se proliferando. Esta leniência judicial fez com que o Governo do Estado se achasse no direito de seguir experimentando, e agora traz novidades, tudo em nome da segurança e da modernidade.

Falácias, podemos afirmar com a segurança de quem experimentou a dor dos acidentes, dos mortos, das vidas em risco. O bonde tradicional é seguro. Não há histórico de acidentes por ser aberto, nem por pessoas viajando no estribo. Evitar que se viaje no estribo não depende de removê-lo juntamente com os balaústres. Basta moralizar: o bonde só anda se não houver ninguém pendurado. Todos sabem muito bem que a tradição do estribo, juntamente com o valor irrisório da passagem foram omissões propositais, retratos da velhaca estratégia de abandonar para privatizar ou para recuperar pagando muito caro aos amigos de sempre.

 

OPORTUNISMO OFENDE A MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DAS TRAGÉDIAS ANUNCIADAS

Régis Fichtner, da Casa Civil: confundindo oportunidade com oportunismo

“- Esta é uma grande oportunidade para a população de Santa Teresa”, declarou o Secretário Régis Fichtner à imprensa.

A AMAST repudia enfaticamente esta fala do Secretário da Casa Civil, que desrespeita a memória das vítimas dos acidentes, ao tentar vender à mídia que a recuperação dos bondes é uma benesse, um presente, na tentativa de esconder a realidade dos fatos, como se nada tivesse acontecido. Até um folheto em inglês circula pelo bairro, para enganar turistas, informando que os bondes estão paralisados momentaneamente para melhorias.

É notório que este projeto só está caminhando, e mesmo assim a passos lentos e com as atrocidades aqui destacadas, devido ao efeito devastador das tragédias anunciadas. Nós de Santa Teresa não aceitaremos esse tipo de manipulação.