No último dia 07 de novembro, os moradores do Edifício Santo Antônio, na Rua Alte. Alexandrino, 1908, festejaram a primeira colheita da sua horta orgânica!
Tudo começou com um abobral “selvagem” que, demonstrando a exuberância da natureza em nosso bairro, se insinuou entre pedras e grama, parecendo alardear: – “Ei, olhem pra cá! Se às sementes que provavelmente passarinhos e morcegos aqui largaram bastaram um pouquinho de terra, de água e de sol, para se transformarem nessas lindas abóboras, quantos frutos variados, belos e saudáveis a natureza poderá lhes prover, caso seja observada com mais atenção e tratada com carinho?
Na verdade, já existia a idéia de se cultivar uma horta naquela pequena área de mais ou menos três e meio metros quadrados, recoberta de lajotas e grama, sub-utilizada como quintal…Mas sabe como é que é, vizinhança é assunto complexo. Às vezes as coisas não passam de declaração de intenções, às vezes é preciso aguardar uma boa combinação… E foi exatamente o que ocorreu: Uma conjunção extremamente favorável dos astros permitiu reunir em nosso prédio a Lúcia Passeri, médica sanitarista, que fundou hortas de fitoterápicos, nos postos de saúde onde trabalhou; o Felipe, geógrafo, que orientou e organizou a fundação de hortas orgânicas, como trabalho de campo de seus alunos da PUC/RJ e a Helô Pires Ferreira, ex-tesoureira da AMAST, cuja militância em prol da natureza e em defesa da alimentação orgânica é sobejamente conhecida. A experiência de quem viveu na roça, do nosso novo zelador, Luís Henrique, trouxe braços fortes e a carinhosa atenção do homem simples, habituado a ouvir e perceber os desejos da terra…
Eu, Nilce Azevedo, urbanóide convicta, que mantenho com as hortinhas de apartamento uma relação simbólica – santuários, onde cultuo a memória e a saudade dos meus pais camponeses, não canso de celebrar.
Nosso síndico não fez objeções:
– “Se for para o bem de todos e a felicidade geral da vizinhança, que se faça a horta!”.
Os demais vizinhos estão vendo a idéia com simpatia: A horta traz satisfação a todos: Aos que se comprazem diretamente no seu trabalho, porque a resposta da natureza é rápida, e a alegria de testemunhar, a cada manhã, o fenômeno da vida brotando e germinando compensa todo o esforço; Aos mais reflexivos que têm na experiência da horta a oportunidade de repensar o seu lugar no mundo e a sua relação com esse mundo. Às crianças do prédio que, além da escola e da casa dos avós, podem aprender, no concreto, que verduras, frutas e legumes não nascem no super-mercado…E alegra tb os moradores mais idosos que embora não possam descer até lá, nunca são esquecidos, recebendo semanalmente da Helô, da Camilinha, da Bia, etc o nosso afeto sob a forma de tomatinhos, abóboras, molhos de salsinha, aipo, manjericão…
Incrível, mas é isso: Em apenas seis meses, a nossa horta tem de tudo: plantinhas medicinais, temperos, folhas de todo tipo para saladas, couve e brócolis, pimentão e xuxu, girassol, abacaxi, amendoim, além daquelas comidinhas de passarinho germinadas e deliciosas que a Helô ensina a fazer.
Sem qualquer tipo de agrotóxicos; utilizando apenas nutrientes , obtidos por compostagem, sem grandes dispêndios de grana, nossa hortinha é uma demonstração de que a agricultura familiar, diversificada pode ser uma realidade nas grandes cidades, particularmente num lugar tão propício quanto S.Teresa, garantindo aos seus moradores não só a auto-suficiência quanto aos produtos de feira, como tb um enorme salto na sua qualidade de vida.
Por tudo isso, evocando nossas antigas tradições que desde tempos imemoriais levaram os homens a festivamente agradecer aos deuses pelo mistério da vida, celebramos a nossa primeira colheita. O Antônio, atual tesoureiro da Amast e monje budista entoou o mantra propiciador do congraçamento de nossos afetos e energias. Colocamos flores nos cabelos, brindamos com vinho, comemos uvas e pães. Foi bacana, gente!
Agradecemos muito os exemplos do Seu Áureo (da horta orgânica da Coroa e do Posto de Saúde) e de todos aqueles que acreditam nas possibilidades efetivas da pequena agricultura familiar. Pessoal, sigam esse caminho, em qualquer cantinho do seu quintal ou de sua varandinha ensolarada. Não é nenhum bicho de 7 cabeças e a compensação é inestimável. A horta familiar, compartilhada por vizinhos, é viável, saudável e integradora dos nossos afetos. Uma bênção!
Nilce Azevedo
Diretora da AMAST