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AMAST

Sou a favor mas não sou cego

“A ideia central do evento é louvável e acho que se fosse respeitada em sua essência, seria perfeitamente viável e passível de harmonização com a vida do bairro. A dimensão dada, infelizmente, contradiz e contraria o conceito de SUSTENTABILIDADE. Prova disso é o fechamento dos acessos ao bairro, prova cabal de que o evento atrairá as massas.”
Depois de conhecer o planejamento do Festival Santa Música, dentro das possibilidades do que vem sendo divulgado pela produção às vésperas do evento, e debatendo o assunto com pessoas que são contra e que são a favor, cheguei à conclusão que sou favorável, com limites, é claro, porque a vida em sociedade não pode ser uma esculhambação.
Gosto de música boa, mas essa visão preconceituosa de público das classes A e B não me convence; pelo contrário, não entendo como divulgam, sem o menor pudor e constrangimento, essa visão de superioridade, pedantismo e ojeriza ao “público diferenciado”; como se ofendem (e se ofendem muito!) com a comparação do evento a uma muvuca (conceito puramente subjetivo)… o dito popular – para fugir do politicamente correto – continua valendo: o filho dos outros é bicha, viado, o nosso é homossexual, LGBT. O evento dos outros, é muvuca, micareta, furdunço… o ‘nosso’ é cult, alto nível, para pessoas de fino trato…
Adoro música boa, mas como vivo em sociedade, não posso colocar o som da minha casa no último volume, tenho respeitar os vizinhos, pois eles podem adorar Nina Simone E Miles Davis, como também podem odiá-los. Não sou muito amigo do Funk, mas acho que o pessoal do pancadão tem mais é que curtir, fazer trenzinho e descer até o chão, desde que não seja no cortiço na esquina da R. Progresso c/ Rua Oriente no último volume, seja às 3 da tarde, seja às 3 da madrugada… para isso existe o Castelos das Pedras, o ViaShow e outros locais apropriados. O mesmo tenho a dizer do Santa Música. Tenho certeza de que há muita coisa boa e de qualidade a ser usufruída, mas por que obrigar as pessoas a desfrutar ou consumir essa ‘sustentabilidade musicial’? A ideia central do evento é louvável e acho que se fosse respeitada em sua essência, seria perfeitamente viável e passível de harmonização com a vida do bairro. A dimensão dada, infelizmente, contradiz e contraria o conceito de sustentabilidade. Prova diso é o fechamento dos acessos ao bairro, prova cabal de que o evento atrairá as massas.
E mais, considero imoral obrigar nossos vizinhos que são contrários ao evento a bancar, ainda que em mínima parte, a estrutura de apoio a esse evento. E não se diga que o custo é zero ou que é o trabalho normal da municipalidade. O mínimo ético que um evento privado deve observar passa por arcar com o custo e/ou reembolso das despesas suportadas pela COMLURB, CET Rio e demais Órgãos Públicos, com a disponibilização de garis, guardar municipais e outros servidores públicos que ficam a postos, em caráter extraordinário, às custas da população do Rio de Janeiro e, o que é pior, às expensas dos moradores que são contrários ao evento e, no final das contas, acabam bancando (com seus impostos), esse aparato.
SUSTENTABILIDADE pode não rimar, mas combina com respeito. Penso que é inaceitável a falta de consulta prévia, esclarecimentos e informação clara e adequada aos moradores do entorno dos palcos (e não a distribuição de informativos impressos resumidos a pouco mais de uma semana do evento). Da mesma forma, não custa lembrar que aqui não é Lapa, é APA. A realização de estudo de impacto viário, ambiental e de vizinhança nunca poderia ser dispensada (se houve, como já andaram dizendo, foi um estudo unilateral, sem a participação dos interessados, e, portanto, viciado);

Enfim, e para concluir, sou a favor de um Santa Música com 10% da dimensão do que efetivamente irá se realizar. É o que cabe aqui. É o justo, ético e respeitoso com aqueles que, de uma forma ou de outra, acabam pagando a conta.

A.M. (Morador)