Em 2014 que surjam candidatos que entrem para a política para defender a Pauta das Ruas, com a missão de consertar essa estrutura política podre – e permitir que o país afinal alcance o Estado Moderno (racional e moral) ao superar a corrupção endêmica, chegando à eficiência pública. Que reduzam as próprias mordomias e busquem impor uma transparência tal, que inviabilize as negociatas. Uma nova geração de representantes que não sejam corrompidos pelo conforto e poder mas que, entrincheirados, lutem pela redução das suas verbas de gabinete e pela transparência absoluta em todas as etapas dos processos de formação das leis.
Buscam-se representantes que fossem lá não para enriquecer, mas para minar o castelo de cartas da anticívica blindagem pela qual a vontade popular é, de fato, sempre que convém, solenemente ignorada – uma vez que o sistema é simplesmente um teatrinho falso. (Lembra da CPI dos Ônibus do Rio? Vai ficar por isso mesmo?)
Que lutem pelo aumento do poder da população, começando um processo de redução da delegação de poder inerente à representação legislativa – a população pode e deve começar a revogar esta delegação, hoje uma apropriação indébita que permite ao poder político permanecer refém de todos os interesses possíveis, quase sempre inviabilizando o interesse cívico.
É mais do que hora das democracias ocidentais atualizarem seu Contrato Social à luz do atual desenvolvimento social – econômico, educativo e tecnológico – e muitas estão fazendo exatamente isso, através de extensas consultas e referendos durante as eleições.
Propostas de leis complexas podem ser estudadas, propostas e comentadas por comissões cívicas independentes, compostas por representantes da sociedade civil organizada e da academia. Estas comissões e comitês os mais diversos, por sua vez, podem ser lastreados por fóruns permanentes abertos, que fomentem e sistematizem o debate público sobre os temas e divulguem os resultados.
Há manifestações sendo organizadas ao redor do mundo (a tecnologia o facilita) e em cada local elas dizem respeito aos processos locais. Na América Latina, Turquia e alguns outros países do terceiro mundo, o processo é particularmente importante, pois diz respeito à transição do Estado pré-moderno para o Estado Moderno, racional e moral, que permite à nação alcançar a prosperidade.
A França fez esta transição na sua Revolução; a maior parte dos demais países da Europa durante a formação dos estados nacionais no séc. XIX; os EUA no início do XX na época do Muckraking e o nascimento da imprensa contemporânea: a política norte-americana até então era dominada pelos ‘Barões Ladrões’ coronelistas. Sem superar a corrupção endêmica, nenhuma quantidade de riquezas naturais é suficiente para viabilizar o desenvolvimento nacional. No Estado pré-Moderno, o crime organizado e (com menor eficiência) os grandes interesses econômicos ditam os processos de suposta representação política nos três poderes.
Apesar de todos os partidos terem o ‘rabo preso’, pelo sistema de financiamento de campanha exigir o desvio de pelo menos algumas verbas para as campanhas, mesmo entre os mais ideológicos, convêm refletirmos e perguntar o que cada partido significa. Os de esquerda muitas vezes partem de uma clara motivação ideológica; os claramente conservadores pelo menos acreditam em algo (e mil vezes um conservador honesto que um alpinista social vaselina); mas o que um partido de centro poderia almejar, se não a conveniência fisiológica?
Cabe à sociedade e aos meios de comunicação desenvolver e divulgar bancos de dados com as biografias e históricos de todos os candidatos – e os eleitores não votarem sem conhecer direito o seu candidato, jamais aceitando recomendações de ninguém, ou seja, cabe ser crítico. Todas as votações precisam ser abertas e o histórico de todas as votações precisa estar disponível para consulta, discriminado por tema, data e representante.
Nas manifestações vindouras, é essencial que os manifestantes assumam pleno controle sobre as próprias manifestações.
Sem agressões nem vandalismo, com capacidade defensiva mais forte em nome da desobediência civil – um kit com máscaras antigás e capacete de obra sai por R$ 50 (a função dos grupos ‘de choque’ não é prioritariamente defender os manifestantes?) e, acima de tudo, com o registro cuidadoso e com close no rosto, não somente dos policiais truculentos, mas principalmente dos vândalos infiltrados que não fazem parte dos manifestantes.
Esses são ‘agentes provocadores’, muitas vezes membros das forças de segurança que se infiltram para desmoralizar, descontrolar, desestabilizar e deslegitimar as manifestações, manjada técnica do séc. XVIII, com a divulgação de álbuns de fotos dos policiais truculentos e, mais ainda, dos ‘vândalos convidados’ e agentes provocadores que costumam aparecer ao final das grandes manifestações pacificas. Assim, os manifestantes demonstrarão ‘olha, não fomos nós’ – o que todo mundo que estava lá já sabe, mas cabe o comprovar – e desmascarar os sabotadores. Com a divulgação destes álbuns, a imprensa, forças de segurança honestas, quiçá federais, investigadores independentes e organizações cívicas poderão os identificar.
Considerando o aparato de segurança que será montado para a Copa (e considerando o resultado limitado das manifestações anteriores) há a necessidade de uma estratégia mais sofisticada, com maior capacidade de convencimento da população e que não possa ser desmoralizada pelos governos locais. Com foco na manutenção do controle sobre as grandes manifestações, os manifestantes poderão, enfim, tomar as rédeas da história e a fazer avançar.