Na FLUPP, a escritora Ana Maria Machado, moradora de Santa Teresa na infância, se lembrou da importância que o bondinho teve na sua vida.
– Quando criança, eu morava na Joaquim Murtinho. Éramos três irmãos. À tarde, tomávamos banho. A mais velha ia para o portão ver o bonde passar e esperar os irmãos se aprontarem. Quando o ultimo e mais novo estava pronto, a minha mãe nos entregava nós três ao condutor (‘motorneiro’ era como se chamava o cobrador).
Íamos as três crianças sozinhas até o Silvestre ou o Largo das Neves, o que estivesse passando. Dávamos a volta e retornávamos. A sineta vinha tocando de longe. Minha mãe ouvia e ia nos esperar lá no ponto do outro lado da rua. Esse era o passeio das tardes.
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– Uma vez, o bonde das 2:20 da manhã – o bonde passava a noite toda e no horário – não passou. Meus tios, depois eu soube que vários outros moradores também, acordaram sobressaltados estranhando o silêncio. No dia seguinte, todos procuravam saber o motivo da falta. O silencio da falta do bonde os tinha acordado. Isso foi o vazio de uma noite.
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Imaginem o vazio de um ano, que os moradores sentem. Imagine o vazio permanente que ficará se o bonde histórico for substituído pelo bonde turístico, pasteurizado e sem graça para o turista, caro e absurdo para o morador.