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Bonde

Em reunião técnica com representantes da CENTRAL, especialistas discutem o processo de recuperação do Sistema de Bondes de Santa Teresa

Nesta 5ª feira, 13/09, especialistas que compõem o nosso Fórum Permanente do Bondinho de Santa Teresa estiveram reunidos no CREA-RJ com representantes da CENTRAL (empresa que administra os bondes), incluindo a Diretora de Planejamento, Ana Carolina Vasconcelos, e a equipe de engenheiros e técnicos responsáveis pela operação do sistema.

Queremos acreditar que se trata de um momento histórico, um primeiro e tímido passo na mudança de postura da CENTRAL, após anos de completo desprezo pelo diálogo, marcados por decisões unilaterais, arbitrárias e desastrosas.

AVANÇOS, APESAR DOS PESARES

A tarefa do novo Presidente, Eduardo Macêdo, e de sua Diretora de Planejamento, Ana Carolina, nos parece que será bastante árdua, a julgar pelo despreparo dos engenheiros e técnicos para debater os problemas que se apresentaram. Além de esquivarem-se das perguntas feitas pelos representantes de nosso Fórum, dedicaram à AMAST um tratamento arrogante e preconceituoso, desvalorizando a memória técnica e histórica de nossos colaboradores e desqualificando a fiscalização intensa que sempre marcou a atuação de nossa associação.

Mudar a mentalidade da equipe técnica é realmente um desafio. A velha guarda contaminada pelos vícios e métodos que caracterizaram a atuação do Diretor de Operações Fábio Tepedino, grande defensor da T’TRANS e do “VLT”*. Tepedino foi exonerado, para conforto de muitas vítimas de acidentes e incidentes e da população em geral, mas seus fantasmas parecem continuar inspirando os ex-subordinados.

Mesmo com esse tipo de postura, tivemos alguns avanços consideráveis. Reconheceu-se o desperdício de dinheiro público em inúmeras iniciativas e projetos da CENTRAL, bem como a existência de falhas e problemas a serem corrigidos nas decisões que serão tomadas a partir de agora.

AUDITORIA INDEPENDENTE

Algumas questões consensuais foram tratadas, como a necessidade de contratação de uma auditoria independente, para avaliar os “VLT’s’* da T’TRANS quanto à segurança e as falhas de projeto. Os bondes tradicionais também serão auditados. A realização de ajustes nos bondes tradicionais não está descartada, de modo a torná-los mais seguros. Entretanto, pelo menos a Diretora de Planejamento e o Presidente da CENTRAL parecem ter compreendido que as intervenções devem ser pontuais, respeitando a essência do tombamento que protege não apenas a aparência dos bondinhos, mas o sistema como um todo.

Ana Carolina tem nos demonstrado que entendeu a necessidade de uma visão sistêmica e ações coordenadas na recuperação dos diversos componentes do conjunto, para que não voltem a ocorrer situações absurdas como, por exemplo, a fabricação de 7 arremedos de VLT’s* pela T’ TRANS, que nunca puderam circular ao mesmo tempo por consumirem energia superior à capacidade da rede.

PRAZOS AINDA SÃO UMA GRANDE PREOCUPAÇÃO

Enquanto os movimentos em Santa Teresa clamam por “BONDE JÁ”, reivindicação mais do que legítima, os especialistas do nosso Fórum e a Presidência da CENTRAL sinalizam que a segurança vem em primeiro lugar. De fato, ambas preocupações se complementam, e por isso mesmo a Presidente da AMAST saiu da reunião preocupadíssima com a falta de horizontes no que se refere a prazos.

É de conhecimento público, e soubemos – mais uma vez através da mídia – da existência de um “Plano de Ação e Investimentos”, que certamente vai balizar o acordo que pretendem negociar com o Ministério Público no próximo dia 18, para prorrogar os prazos estabelecidos pela justiça, devido à suposta inviabilidade técnica de cumpri-los.

Continuamos à margem dessas deliberações. Não temos conhecimento de qualquer cronograma. Não fomos convidados para essa reunião onde será negociado o que já temos garantido por direito (mas nem por isso deixaremos de acompanhá-la).

A FARRA DA T’TRANS E AS COBAIAS DE SANTA TERESA

A “pérola” da reunião ficou por conta do Engenheiro Marcelo Néri. Ao ser perguntado pelo Diretor do SENGE, Jorge Saraiva, sobre a garantia e manutenção dos “VLT’s”*, confessou que até hoje essas aberrações da T ‘TRANS não receberam o Certificado de Aceitação Definitiva (CAD), e continuavam circulando pelo bairro, e transportando pessoas, com um Certificado de Aceitação Provisória.

Em resumo, os moradores de Santa Teresa e os funcionários da CENTRAL não foram cobaias humanas apenas durante o período de “operação assistida”, no qual os protótipos de VLT’s sofriam ajustes frequentes, alternando idas e vindas à oficina da T’TRANS em Três Rios com deslizamentos ladeira abaixo, perda de freios, atropelamento de funcionários na oficina e outros incidentes assustadores. Uma vez terminado o período de testes em nossas ruas e ladeiras, os “VLT’s”* continuaram a apresentar problemas gravíssimos, que não foram solucionados pela T’TRANS, e para os quais o Diretor de Operações Fábio Tepedino fazia ouvidos de mercador.

Em função dos inúmeros problemas, sobretudo o acidente que matou a Professora Andréa de Jesus Rezende, ninguém teve coragem de assumir a responsabilidade pela liberação definitiva dos arremedos de VLT, mas os trambolhos continuaram circulando em Santa Teresa, reduzindo nossas famílias à condição de ratos de laboratório, dada a audência do CAD.

APESAR DISSO, A CENTRAL CONSIDEROU QUE O PRAZO DE GARANTIA HAVIA SE INICIADO COM O RECEBIMENTO DO CERTIFICADO DE ACEITAÇÃO PROVISÓRIO, E PRESENTEOU A T’TRANS COM UM CONTRATO DE MANUTENÇÃO DOS “VLT’S’*. Mais grave ainda, a T’TRANS parou de dar assistência quando o contrato de manutenção foi declarado ilegal pelo TCE, como se não tivesse a obrigação de corrigir e ajustar as graves falhas de projeto apontadas inclusive pelo CREA-RJ.

Os engenheiros e juristas de nosso Fórum explicam que não é possível considerar iniciado o prazo de garantia se os veículos fabricados pela T’TRANS ainda não haviam atingido o estágio de maturação tecnológica suficiente para ser considerado apto em caráter definitivo ao transporte de passageiros. Portanto, se já era ilegal e absurdo o contrato original com a T ‘TRANS, esse contrato de manutenção é escandaloso.

PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR

A AMAST apresentou à Diretora Ana Carolina um documento contendo uma série de perguntas e pontos que carecem de esclarecimentos técnicos. São dúvidas e questionamentos que surgiram a partir da análise do relatório da Comissão de Intervenção do DETRO, ao qual tivemos acesso.

A reunião certamente não tinha o propósito de esgotar todas as questões técnicas, até porque a avaliação de vários pontos pelo nosso Fórum tem sido prejudicada pela dificuldade de acesso a documentos importantes, como por exemplo, o relatório da Comissão de Intervenção do DETRO, entregue ao Governador Sérgio Cabral e ao novo Presidente da CENTRAL, Eduardo Macêdo.

Apesar dos inúmeros pedidos, devidamente formalizados à CENTRAL e ao Secretário da Casa Civil, Régis Fichtner, fomos obrigados a recorrer a outros meios para ter acesso ao relatório. Esperamos que esse tipo de entrave burocrático e político seja resolvido e queremos crer que não há intenção de engessar ou prejudicar a atuação de nosso Fórum.

Continuamos tentando acreditar nas promessas de transparência ampla e irrestrita, mas apesar das boas intenções nos novos gestores, os fatos ainda não nos convenceram.

“VLT’s” foram grafados entre aspas, porque a aberração construída pela T ‘TRANS está longe de ser um VLT – Veículo Leve Sobre Trilhos. De leve, os 7 monstrengos criados ao longo da aventura tecnológica patrocinada pelo dinheiro público não têm nada; pesam muito mais do que os bondinhos tradicionais. Esses veículos abomináveis não são bonde, muito menos trem, por isso mesmo os moradores apelidaram de “Frankstein”. Foram essas coisas sujas de sangue e sangria de dinheiro emprestado pelo Banco Mundial que causaram inúmeros incidentes e acidentes, e tiveram seu sistema de freios condenado pelo CREA, após a morte da Professora Andréa de Jesus Rezende, anunciada três dias antes pela AMAST. Foram esses veículos contaminados pela incompetência que consumiram a verba destinada à manutenção e recuperação dos bondes tradicionais.