Por Débora Lerrer e colaboração de Álvaro Braga
Desde que foi fundada no início da década de 80, a AMAST (Associação dos Amigos de Santa Teresa) herdou como uma de suas principais bandeiras a luta por estes centenários veículos, hoje símbolos do bairro e seu maior programa turístico, dando continuidade a uma mobilização pela manutenção dos bondes que se iniciou na década de 60, reunindo moradores e funcionários de várias gerações. É seu charme que o faz ser um cenário cada vez mais requisitado para produções audiovisuais, eventos musicais e carnavalescos, como o Bonde da Paz, promovido pelo governo estadual no pré-Carnaval como o “primeiro evento de pacificação da cidade”.
Todos os anos, em setembro, comemorando o aniversário dos bondinhos, ocorrem manifestações no bairro. Há anos há audiências públicas, tanto na Assembléia Legislativa, no Crea-RJ, na Câmara de Vereadores, mas o desmanche continua. A última agressão do governo estadual contra o patrimônio cultural dos bondinhos de Santa Teresa foi a venda irregular dos truques e das máquinas de fazer peças dos veículos para o ferro-velho Balprensa, na Pavuna.
Havia pelo menos seis veículos históricos parados na garagem aguardando essa recuperação, para os quais os truques e a máquina de fazer peças poderiam ser essenciais. Esses eram os únicos dos 14 exemplares de bondes tombado pelo patrimônio histórico do Estado que conseguiram sobreviver à sanha da decisão tomada pela administrações Garotinha-Cabral de travesti-los em VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos) ao custo de R$ 1 milhão cada, cerca de cinco vezes mais caro do que uma reforma destes veículos em seus moldes tradicionais. Ou seja, o dinheiro gasto para fazer um VLT, dava para recuperar pelo menos três dos bondinhos parados na garagem.
Ao contrário da lógica e do esperado de quem possui espírito democrático, a SECTRANS não aceita conversar com a AMAST (desde setembro aguardamos audiência), nem aprende com seus erros. Nos choca termos recebido de trabalhadores do bonde a informação (a “boca pequena”) de que com menos de 300 mil Reais a Central Logística poderia reformar dois bondes tradicionais parados e que se encontram em melhores condições (o 11 e o 9).
O governo estadual acaba de tornar a ser condenado pois perdeu o recurso que havia apresentado contra a Ação Civil Pública ajuizada pela 3a Promotoria de Justiça do Meio Ambiente e Patrimônio do Rio de Janeiro/AMAST, foram derrotados agora já em segunda instância. Os desembargadores do Tribunal de Justiça, condenaram o Governo do Estado do Rio de Janeiro/Central Logística a pagar indenização por desrespeitar o seu dever como prestador de serviço de passageiros , por descumprimento do seu próprio Plano Estadual de Transportes (PET). A sentença determina a restauração de todo o sistema: bondes, via permanente (trilhos), também exige a recuperação da oficina da rua Carlos Brant, da rede aérea e do gradil dos Arcos da Lapa, em 120 dias, sobe pena de multa diária de R$ 50 mil. A decisão judicial também contempla a reforma das estações Carioca e Curvelo.
Façamos votos de que a SECTRANS reconheça afinal a importância do tombamento dos bondes e passe a respeitá-lo. Urge também que eles cessem de amesquinhar o sistema de transporte de bondes de Santa Teresa e que parem de associar nossos bondinho à um “aparelho turístico” (para nós moradores, como sempre foi, o turista é bem vindo ao nosso lado, usufruindo da mesma qualidade de serviço que seja oferecido aos cidadãos-passageiros). Ao contrário da lamentável visão atual, os responsáveis legais pelo bondinho de Santa Teresa deveriam passar a compartilhar a visão cidadã de que o mesmo é “um serviço essencial” para sua população, como definiu o ex-Secretário de Transportes do Estado, o engenheiro e professor Raul de Bonis, em uma audiência convocada pelo CREA-RJ, em 2009, para discutir a reforma cara e tecnologicamente questionável dos bondes de Santa Teresa, bem como os planos de privatização dos bondinhos, anunciados pelo Governo Cabral no início de seu primeiro mandato.
Na época, em meio à comoção, o governador Cabral anunciou que os bondinhos iriam para a Prefeitura. Nada ocorreu. Apesar de terem seus freios reprovados pelo levantamento feito pelo pelo Crea-RJ, os “bondes Frankensteins”, tirados de circulação após o acidente, voltaram circular no ano passado. Vieram as chuvas de abril de 2010, que danificou alguns postes e a rede aérea, desde então, eles não iam mais até o Morro dos Prazeres. Triste constatar que foi necessário o anúncio da visita do governador aos Prazeres ( inauguração das duas UPPs) para que o bondinho tornasse a voltar ao Dois Irmãos. Demoraram quase um ano para restabelecer o serviço até os Dois Irmãos! A demora revela a visão perversa dos responsáveis pelo Bonde, não havia pressa , posto que o transporte de turistas até o Guimarães não havia sido afetado , muito pelo contrário, havia sido privilegiado pela linha Carioca-Guimarães… Já os que moram lá pelo Dois Irmãos, Paula Mattos que usufruam dos serviços da “excelente” Transurb!